Sou um melancólico revivalista. Prefiro um cd de Duke Ellington aos drum ´n jazz de hoje em dia. Não troco uma boa caixa televisiva por um ecran plasma. E, se pudesse, calçava aqueles ténis puma muito "all in family", anos 60 - in your face!, todos os dias. Não acredito na tecnologia. Porém, acredito numa máquina de escrever. Vê-se o interior e, por isso, não intriga. A tecnologia é como as mulheres. Fascina e não se vê o interior. Intriga.
Reflecte-se em quase tudo, esta minha espécie de cepticismo velho-restelice.
E quando hoje deparei com um reclame publicitário (do totobola ou lá o que era...) onde (re-)aparecia a Helena Laureano (essa Helena Laureano que mete qualquer jovem da modelice hodierna no chinelo), fixei o olhar e parei para ouvir. Viajava de carro numa noite escura e ouvia um relato de futebol do Sporting. Dizia baixinho: "Põe o Barbosa, põe o Barbosa...". Dizia isto, claro com uma languidez "daquelas", como se não houvesse amanhã, meio "vem-te deitar ao pé de mim", meio "sinto-me muito sozinha, sabes?". Estarreci um bocado mas não me manifestei demasiado. Tinha um amigo ao lado e a vergonha oprime...
Soube-me bem (ainda que ingenuamente) pensar que talvez não fosse o único a ir para alvalade, rapar um frio de morrer, com a camisola n.º 8 vestida e passar grande parte do jogo a murmurar "põe o Barbosa, põe o Barbosa, porque é que este cavalo não mete o Barbosa???"
E a muito me soube, também, relembrar que se algum dia vi telenovelas em garotices remotas, em grande parte se deveu à Sra. Laureano e aos olhos desta.
Mas sempre estive, nesse aspecto, do lado errado. Nunca amigos compartilharam nem a Laureano nem o Barbosa.
(Da Helena Laureano, lamentavelmente, não consigo arranjar uma foto em que não seja apanhada com roupa a menos. Estes bandidos da Internet!)
Mas que sabiam os amigos? Nunca perceberam o glamour, nem o génio a espaços. Nunca vibraram com a voz prolongada e cativante ou o fino recorte irritantemente lento. Cristianos & Ronaldos?? Passo... Marisas Cruzes e outras que tais? Não dá vício...
Quero acordar na época em que a Helena Laureano me ocupava o "prime time" televisivo. Quero voltar a um tempo em que o Pedro Barbosa, hoje morto e exasperantemente acabado, não se arrastava pelo campo, em desesperos de ciáticas e artroses. Quero o Alvalade, não o XXI! Quero gasolina super, caraças! Quero "pastilhas gorila" e calipos de limão. Maços de tabaco de português suave azul, mas não clarinho. Verões no algarve e chinelos de piscina. Abaixo as Havaianas. Venha a meia branca se for preciso! Venham os bigodes, for all i care...Camisas Maconde, Júlio Isidro, Cervejas Cristal, Voltem e ninguém se magoa!
Nem que isso implique um Governo Cavaco. Nem que volte o "escudo" como moeda nacional.
Levem-me de volta aos "noventas" e é já!!
Eu fico por lá. Passo por cá depois para vos atirar um beijo. E venho de ford escort 1.3 (sem via verde!), com os ray-ban dourados do meu tio.
Ah bolas, vou mas é plantar uma alcatifa nesta casa. E um abat-jour amarelo torrado...Sim, talvez um papel de parede, uns suspensórios e um vinyl de Jáfu´mega a rodar em 32.
Porque isto, em termos de anos, está a avançar em "fast forward" e eu não sei onde é que se carrega em "rewind".