M.J.
Lembro-me agora de uma passagem dos Diários do transmontano, que foi médico-escritor, quando nos revela uma história passada no Pulo do Lobo, onde o Guadiana se estreita tornando viável a sua transposição. Um colega seu, ao ver que todos tinham saltado para a outra margem com relativa facilidade, atirou os sapatos para junto deles, obrigando-se desta forma a saltar. Hoje sinto que depois de atirar os sapatos, não me tendo faltado a coragem de pular para recuperá-los, faltou-me alguém que me esperasse na outra margem – a justificação do salto. Casar é tema inconspícuo, de gente crescida. Não se admitem precipitações, não! Está tudo definido num manual que ninguém escreveu, linhas de eterno devir. E eu, que tenho sido somente um espelho que rejeita o pó como fado, vejo que sirvo apenas para poucos reflectirem em mim a opacidade de muitos.