« Home | Bezerra da Silva (1938-2005) » | Ah, mas tu nunca soubeste o que é viver para nada. » | Imprevisivelmente previsível » | Num duelo ao pôr-do-sol... » | Porque hoje é domingo » | O Sete e Sismos feito pelos seus (poucos) leitores » | Maria full of grace » | Que reste-t-il de notre pas de deux? » | P.S. » | Dejá vu » 

quarta-feira, janeiro 19, 2005 

82

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade