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quarta-feira, janeiro 19, 2005 

Imprevisivelmente previsível

Advinhar aquilo que uma pessoa vai dizer de seguida, ou o que ela está a pensar sobre determinado assunto, pode provocar as sensações mais entorpecedoras, viciar relações de qualquer tipo e irritar o mais harmonioso aprendiz de monge budista. Provoca aquela sensação de se estar a falar sozinho, de não ter nada a retirar daquela conversa, de estar tudo inventado.
A previsibilidade pode, no entanto, ser uma outra coisa. Refiro-me a uma previsibilidade suave, subtil, não invasiva. A uma previsibilidade cúmplice, sedutora. Quem é nunca sentiu, de furma fugidia, que determinada coisa se poderá extrair daquilo que se vai dizer, ou escrever? É uma ideia tão lateral, tão subliminar que nem temos a certeza que alguma vez a tenhamos tido. De repente alguém nos transmite a mesma ideia, a mesma associação e reavivamos na nossa memória aquela ideia que nem sabiamos nossa. Nunca chegaríamos por nós à certeza de que tal associação era válida, e não apenas um monstro criado pelo nosso cérebro isolado e desconexo. Esta previsibilidade é, nem mais nem menos, que um norte no nosso temeroso perspectivismo. Esta previsibilidade é o que nos une especialmente a algumas pessoas, é a construção de um sentido.E é, quase sempre, imprevisivelmente previsível.

ter-te

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