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quinta-feira, junho 16, 2005 

Sensibilidade e bom senso

A luta continua, a luta continua – gritavam eles.
Mas que luta, rapaziada? Que luta?
Houve dois tipos de pessoas que foram ao funeral de Cunhal: os que encontraram um expediente para interromper o trabalho; e os que foram gritar a luta continua a luta continua. Estes segundos, também podem ser chamados de comunistas.(...)

A luta não continua nada pá, deixem-se de palhaçadas…In Lóbi do Chá

Esperava um pouco mais de JCS que esta generalização gratuita.
Se é o vocábulo "luta" que impressiona os sensíveis ouvidos da direita, tudo bem... Até estou mais farto de ouvir "Grande Capital".
Mas não me peçam para não me atirar ao ar, de cada vez que ouvir "conservador", "tradicionalista", "patriota", "disciplina", "a nossa gente mete-se com brios".
É que passei quase três anos a ouvir e não estrebuchei (se calhar porque não traumatizo o que não conheci).

Grosso modo,e sem conotações, todos aceitamos disciplina. Aceitem a luta.
Menos susceptibilidades às conotações, por favor. Senão a gente não se entende.

Caro Pedro,

Obrigado pela referência ao meu texto.

Transcreve alguns parágrafos, mas não todos, do meu texto. Os que faltam, eu diria, são fundamentais para se perceber o meu ponto de vista.
Eu não me impressiono ou escandalizo com “a luta” em si, nem tão-pouco com qualquer conotação. Critico a “luta continua” da esquerda, como critico aquele estilo arrogante de certa direita empoeirada; como critico o não ao aborto, quando se diz “Pela Vida”. Eu, ainda que seja contra o aborto, acho obsceno a ideia dos defensores do não serem pela vida ou pelo direito à vida. Os outros também o são, com certeza que são.

Mas, como lhe digo, não tenho nenhum problema pessoal com palavras de ordem, que são, na maior parte dos casos, palavras de desordem.

O que lhe peço é para não afastar o meu argumento principal. A razão pela qual eu defendo que a luta não continua, é o simples facto das razões que fundamentavam a luta de há 30 anos (na qual Cunhal teve um papel fundamental), já não existirem. Nem tão-pouco existe sequer uma franja da luta contra o capitalismo. Talvez contra o capitalismo selvagem, mas contra esse também eu me bato. Não era esse que o comunismo combatia, era um muito anterior que já é consensualmente aceite até por grande parte dos comunistas que ontem gritavam a luta continua.

Mas, para não me exceder no comentário, resumo dizendo que este era o ponto fundamental, não a questão do slogan (com esse posso eu, como você, muito bem). Em termos de conteúdo, se tivessem gritado “agora a luta é outra, agora a luta é outra” eu até compreendia. Agora, a luta (aquela luta) não continua.

JCS,

Percebo perfeitamente tudo o que disse sobre o anacronismo da maioria dos afiliados comunistas (maioria).

Mas extrapolar da mera crítica do chavão "A luta continua" para induzir a ideia de que o comunista busca a manifestação sem causa e apenas quer um expediente para não trabalhar, talvez seja ir um bocado além da verdade.

A luta, claro, não é a mesma de há 30 anos. Mas há quem lute diariamente. E conheço muitos comunistas que assumem cada dia da sua vida como uma luta contra as circunstâncias. E não são rebeldes sem causa, nem tão pouco anacrónicos.
São sobreviventes.
Deixe-me apenas dizer uma coisa. Prefiro ouvir "a luta continua", expressão vazia e indeterminada que pode encaixar em "ene" situações que "A terra a quem a cultiva" ou "Abaixo o grande capital", expressões que me podem causar algum mau-estar.

Até lhe digo mais.

Antes gritassem "Assim se vê a força do Pê-Cê."
Nunca evito um sorriso.

E gritaram, Pedro, e gritaram. ;)

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