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quinta-feira, maio 12, 2005 

À descircunstância (meio à toa)

Conheço alguns descircunstanciados.
Dizem-se imunes ao momento, impassíveis e constantes.
São de uma fidelidade católica à coerência e ao que acreditaram, acreditam e sempre acreditarão. Gabam-se de não andar à toa, ao sabor de marés e de serem convictos, fortes, seguros. Não olham para o sol, a mão nunca lhes tremeu, o passo é seguro, forte, directo, sempre, sempre, sempre, sem dúvida, sempre!
Dizem-se cirúrgicos...sim, dizem-se concretos, incisivos, certos.
Mas depois, devagar, devagarinho, vem a circunstância. Afinal, não se compadece de palavras de desprezo, revolta-se quando é ignorada. E já não se fala tão alto, e o peito encolhe, a voz embarga e as palavras, outrora seguras, agora mastigadas, comidas, são contrafeitas.

E outros riem (e quem o evita?).
Mas como o riso é cínico (mas quem o evita?), votam o seu desprezo à descircunstância, ao ideal, ao arquétipo, ao protótipo, ao perfeito, ao total, ao completo.
E brindam, enquanto riem (e riem muito), tão somente, ao real.
Aos primeiros dedico-lhes a frase de António Botto:

"Que horas são? Não é noite nem é dia. É um intervalo suspenso na ponte da fantasia."

Aos segundos, no meio dos segundos, brindo com eles. E rio, rio muito.

Muito muito bom texto, Pedro. Qual foi o whiskey responsável por tanta inspiração? :)


PS: E obrigado ao Galamba pelo link!

Cerveja becks e português suave vermelho, Tiago.

E a quietude do lar.

As tuas fontes de inspiração, quais são?

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