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quarta-feira, julho 06, 2005 

Mundo cão - A Escala

"Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moido de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!"
Alexandre O'Neill, Abandono Vigiado


Por vezes, parte da vida dos outros aparece negligentemente nas nossas mãos, como um copo de cerveja alheio que se segura sem perceber porquê.
Algumas destas, essa parte de vida escorrega para o chão com a mesma leviandade que o faz o copo e percebemos o Senhor K.. Percebemos o Senhor K. e sentimos um pouco do que julgamos o peso do mundo nas costas do Atlas.
Como se não bastasse, surge sempre um alarve exemplo da bio-diversidade capaz de entoar a maior barbárie. Repugno-o num primeiro momento, mas, mais sereno, digo-lhe em silêncio:
"Ah cabrão! Este mundo foi feito à tua escala!"