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terça-feira, junho 28, 2005 

Piloto automático III

Solteiro a dois

Escrever sobre coisas a dois é-me particularmente complicado (quanto mais não seja porque matematicamente o dois é mais complexo do que o um). As dificuldades começam na escolha das palavras: amor é uma palavra que me causa arrepios foleiros, pelo que fica aqui substituida pela ambígua locução "coisas a dois". Torneados os termos ficam os conceitos. Aqui há que ter um cuidado extremo: navegar por entre a atitude piegas e a atitude macho, visto que ambas me repugnam por igual. Esforçando-me por me manter afastado destas margens, começo inspirado por uma conversa com um amigo. Descrevíamos o processo de saída de relações complicadas. Primeiro aquela letargia estranha, o tudo sem sentido (um bocado piegas mas passa). Depois, e aos poucos, voltar a ter prazer com aquelas coisas que sempre nos fizeram felizes, como, por exemplo, um bom jogo de futebol, quer como espectador quer como praticante (um bocado macho, mas é para equilibrar). A terceira fase é fantástica: afinal conseguimos viver bem sozinhos. Somos felizes com tudo. Vemos a vida através de um filtro cor-de-primavera. Aqui chegados, restabelecidos e enérgicos, concluímos, ao fim de algum tempo: "epah, tenho de dividir isto com alguém"... ops...lá nos sentimos outra vez à procura de qualquer coisa. Fecha-se o círculo.
É aqui que entra o título. O que procuro é não mais nem menos que ser solteiro a dois. Não me perguntem exactamente o que isto significa, porque não sei. Apenas consigo adiantar que se encontrará perto de um ponto que resulte do cruzamento feliz entre o eixo "solteiro" (suave sensação de deambular sem destino) e o eixo "a dois" (suave sensação do sorriso cúmplice que antecede um beijo). Quando encontrarem avisem.

posted by Porfírio - Quinta Feira, 04 de Março de 2004

Ora, e como quem nao quer a coisa, devassam-me escritos passados!

Processa-me!

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