« Home | Dice number five » | Filme da vida (2) » | Filme da vida » | Realismo vers. Waits » | Por vontade » | Andy Warhol » | Isto pode parecer obsessivo » | Uma questão dérmica » | E se o brutamontes trouxesse o outro? » | Did you ask delicate? » 

terça-feira, novembro 01, 2005 

Coliseu dos sentidos



"One by one the guests arrive,
the guests are coming through,
the open hearted many,
the broken hearted few
."

Podia ter sido a melodia inicial, porque representaria tudo, mas não foi.

Eu não me lembro de ter respirado durante o concerto inteiro. Apoiei o queixo no cotovelo e este na cadeira e assim fiquei em suspenso. Do momento em que ele se sentou ao piano ao momento em que abanou a mão no adeus.

Inicialmente fiquei um bocado desiludido por não haver secção de metais (O quê? não há "fistful of love"??) mas os violinos e o "cello" deram bem conta do recado... porventura melhor conta. Mas com um Antony daqueles, é difícil falar dos Johnsons.

Não podia ter pedido melhor surpresa que duas versões fantásticas de "Guests" do Cohen e "Afraid" de Nico.
Ainda não tenho bem a certeza de perceber como é que ele pode aguentar sentir aquilo tudo ao mesmo tempo, sem estoirar. Mas a demonstração é transparente. Aliás, tudo é transparente ali. E em vez de rebentar, tudo é repartido pelos presentes na sala.

Sorrow, lust, desire. Tudo substantivos que não tenho pretensão de conseguir traduzir, da mesma forma que me foi traduzido ontem, de inglês para inglês.
"Fell in love with a dead boy", "hope there´s someone", "bird gehrl", "for today i am a boy", "you are my sister", "candy says" (Não era a própria Candy Darling da factory que esteve nesse momento no palco?). Só faltou mesmo "river of sorrow", apesar dos berros dos camarotes.

Eu fiquei em constante suspensão e não consegui pedir nada porque foi praticamente tudo dado. Não houve peito aberto que não fosse fechado.

Quer-me parecer que se o Reed, o Devendra, o Rufus, a Julia Yasuda e o Boy George ontem estivessem em palco, silenciosamente desciam, sem vénia e calmamente se juntavam a nós nas cadeiras, imóveis e calados.
Porque não havia espaço para mais ninguém. O palco estava cheio.

Nós, os que viram, ouviram e sentiram, "We were left to pick up the hints, the little symbols of his devotion."
E mais não devo escrever, porque posso ser ainda mais redutor e menos expressivo com as palavras do que fui acima.

Não. Não houve peito aberto que não fosse fechado. Tudo foi dado. :)




Também não me lembro de ter respirado...

;)

Enviar um comentário