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sexta-feira, outubro 28, 2005 

Uma questão dérmica

Xipe Totec

Há, no museu pré-colombino de Santiago do Chile, onde estive há uns dias, uma estátua que representa o deus azteca Xipe Totec. A história deste deus interessou-me: para o adorar, os crentes sacrificavam as vítimas tirando-lhes a pele, e vestiam-se com essa pele humana, andando pelas aldeias enquanto duravam as cerimónias. O problema é que, depois desse período, já não a conseguiam despir, e como ninguém os aceitava tinham de viver de esmola. Este culto desapareceu, pois já ninguém acredita em Xipe Totec. No entanto, permanece o hábito de pôr peles alheias, durante épocas festivas, para que não se veja bem o rosto de quem as usa, e se acredite mais nas aparências com que se mascaram do que na sua realidade. É um caso que não anda longe do que se passa, neste momento, à nossa volta, em que todos os dias há quem ponha sobre si peles e mais peles, para que acreditemos que este verdadeiro sacrifício tenha, como resultado, a transformação do clima estéril em que vivemos, e para o qual eles também deram o seu contributo. Santiago do Chile é um pouco longe para irmos visitar a estátua do deus Xipe Totec; mas o seu lugar é nesse museu, e não me parece que seja muito saudável para o nosso país colocar, em Belém, uma réplica de tão desagradável divindade. É por esta razão que prefiro um candidato como Manuel Alegre que nunca mudou de pele e se apresenta com o rosto que sempre lhe conhecemos.

Nuno Júdice

Ou epidérmica.

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