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quinta-feira, junho 02, 2005 

En marge

CDS-PP defende criação de um "dia nacional da criança por nascer"

2005-06-01, 14:45
Lisboa, 01 Jun - O CDS-PP propôs hoje a criação de um "dia mundial da criança por nascer" com o objectivo de sensibilizar a opinião pública para a necessidade de o Estado dar protecção legal à "vida humana e intra-uterina".
"Em pleno século XXI não se pode aceitar que a eliminação da vida de seres humanos ainda não nascidos seja encarada como escolha válida e admissível", defendeu o porta-voz do partido, Paulo Núncio, em conferência de imprensa na sede do CDS-PP, em Lisboa.
Considerando que "falar em aborto" no Dia Mundial da Criança, que se assinala hoje, "é desajustado", Paulo Núncio argumentou que o objectivo do CDS-PP "é fazer pedagogia pela positiva" numa questão "de direitos humanos".
"O CDS-PP reafirma a sua convicção que esta é uma questão fundamental de direitos humanos e de defesa dos mais fracos e vulneráveis", disse, sem esclarecer se a proposta para institucionalizar o "dia nacional da criança por nascer" será apresentada no Parlamento"


O timing é perfeito.
Está na ordem do dia (há séculos que está na ordem do dia) a realização de um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
O relevante, neste ponto, é que a questão é socialmente debatida e debatível.
Mas o CDS pretende avançar com uma proposta da criação de um "dia nacional", vulgo, a coisa mais institucionalizadora que há.
Dias nacionais comemoram ou relembram eventos ou causas/ideiais pacíficos.
Conscientes, naturalmente, da complexidade da questão e da divisão da população, relativamente a esta, os populares prentendem avançar com a proposta.
Cabe-me dizer que ou este Paulo Núncio (prefiro a identificação pessoal, ao invés da partidária) vive totalmente à margem da sociedade (que não creio possível), ou tem um total desrespeito pela opinião pública e o pluralismo político-social ou, basicamente, pretende marcar posição. E a posição já está sobejamente vincada, obrigado.

Todavia, a questão não é pacífica, longe disso, como bem se sabe.
E esta proposta trata pura e simplesmente de instrumentalizar o "dia da criança", do qual são, pelos vistos acérrimos defensores, a esta suposta "sensibilização" que se pretende institucionalizar. Este núncio é vítima, portanto, do que critica.
O cúmulo é a auto-confissão do mesmo. Diz:
"Falar em aborto" no Dia Mundial da Criança, que se assinala hoje (ontem), "é desajustado", Paulo Núncio argumentou que o objectivo do CDS-PP "é fazer pedagogia pela positiva" numa questão "de direitos humanos" .
Nesta linha de raciocínio, falar em aborto valerá apenas para quem defenda a sua despenalização em vários casos. O CDS (que parece ter importado a pretensão de mais altos patamares morais, que já reconheci ao Bloco de Esquerda) não fala em aborto no Dia Mundial da Criança. Fala apenas em "não se poder aceitar que a eliminação da vida de seres humanos ainda não nascidos seja encarada como escolha válida e admissível." Pedagogia pela positiva, portanto. Sem qualquer referência à questão unilateral do aborto, imagine-se.

Dois pesos, duas medidas, cautelas vocabulares, relativismo moral e o mesmo populismo. O bom e velho PP, hábil a extremar posições, está para ficar.

Pergunta:
Como reagiria o CDS a uma proposta, apresentada no Parlamento, do Dia Nacional da Escolha e Autodeterminação feminina, por ocasião do Dia Mundial da Mulher?

Resposta:
Mal, muito mal. Tu quoque, CDS?

1+1=3

Quereis andar à frente das consciências, ó pecador de má-fama?
Espreitai a Gália e vereis o inverno que tendes de percorrer.
Muitos falam, alguns sofrem. Todos decidem, ninguém é responsável.
Há opinião sem liberdade.
Tudo falso e gasto. Contestação feita quando faz eco, pois em casas mobiladas limpa-se o pó, se tanto!
Calai-vos e vivei. Essa é a vossa fortuna. Essa é a vossa derradeira hipótese.

Dura seja a fortuna dos que calam e se limitam a viver, meu profetico e envergonhado amigo.
Calado nao vives. Sobrevives.

E eu tenho mais que fazer que sobreviver.

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