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domingo, outubro 16, 2005 

Our fucking white history, my friend



Afinal quais são os grandes sucessos históricos do património da "nossa" raça (ou etnia)que nos possam levar a ter "orgulho" nela?
A colonização, as playstations, o capitalismo, o petróleo, o genocídio, as armas, os reality shows, a Isabel Figueira?

Será que queremos mesmo medir méritos?

Teríamos, primeiro, de medir circuntâncias.

Naturalismo.

Somos todos uma grande raça e está tudo cá dentro: o Pior e o Melhor.

"O que toda a gente vê ou a política [/vida] numa lição" de Antero de Quental.

Sim, mas esse medir de circunstâncias é impossível, porque não podes fazer uma hermenêutica existencial de reconstrução de meio de todas as etnias (e membros dessas etnias) do mundo.

Assim, numa estatística grosso modo (única possível), só me questionava, dando de barato a básica tetrapartição étnica (branco/negro/chinês/índio), sobre quais são exactamente os grandes feitos da "comunidade branca" - posso não concordar exactamente com todos os conceitos, mas vou usá-los por conveniência de expressão - que possam (não legitimar) mas dar o mínimo de sentido a alguma coisa que pudesse ser "orgulho".

Tentando levar a sério o orgulho branco (apesar da idiotice), a verdade é que não encontro muitos factores dos quais nos possamos (os caucasianos) orgulhar.
Concordamos que, mesmo noutras circunstâncias, a opressão não é moralmente muito elevada, certamente.
E em termos de feitos, exactamente o que é que a comunidade branca providenciou ao mundo, que possa ser reclamado como próprio desta? - excluindo alguns avanços tecnológicos da medicina e uma desgraçada evangelização (primeiro cristã, depois democrática).
O saldo, parece-me, é francamente negativo.

A outra possibilidade, claro, é a mais abjecta.
O orgulho inerente a ser branco. Não por feitos/accomplishments, mas um orgulho puramente auto-afectivo e irracional.

Tudo bem que somos todos uma grande raça. Mas a verdade é que, em termos estatísticos, a comunidade branca, moralmente falando (e não discuto a definção de moral e ética, porque é como o serviço público - acaba por ser próximo do unívoco), tem menos razões para sentir orgulho que as restantes três.

Além de tudo isto, o orgulho por definição (correcta) é uma coisa que se sente por uma entidade terceira a nós.
Nunca pelo próprio, nunca por uma raça ou etnia que inclua o próprio.

São demasiadas petições de princípio, portanto.

"Concordamos que, mesmo noutras circunstâncias, a opressão não é moralmente muito elevada, certamente."

Sim, concordamos, ai as ironias.As circunstâncias não desculpam, as circunstâncias condicionam.Não estava a defender o que temos de Pior. Certamente.

Se a Europa fosse negra quantos brancos não teriam andado acorrentados, no Estado Livre do Congo, a carregar marfim? "Se Napoleão tivesse morrido em Arcole? Se Alexandre não tivesse contraído uma febre paludosa bordejando nos charcos da Babilónia? Se Paulo, o verdadeiro fundador do Cristianismo, na sua vida errante de operário, nunca tivesse ouvido falar de Jesus de Nazaré? Se os Persas tivessem vencido em Maratona?... Se...se...se?" Demasiados se's talvez. Mas "onde está a necessidade em tudo isto?"

Somos todos uma grande raça, ou seja, antes de ser preta ou branca, rica ou pobre, inteligente ou burra, 86-60-86 ou 60-74-80, sou Homem (não me interpretem mal), esta é que é a grande raça, não a branca...

Nasço capaz de tudo.
Mas não faço tudo, não porque não tenha tempo, e daí talvez não tenha mesmo, mas, sobretudo, porque não sou omnipresente, nem omnisciente, sou uma pessoa condicionada em diversos aspectos.

Como aqueles se's criam uma infindável possibilidade de História, num verdadeiro efeito borboleta, resta-me dizer que as salas da morte, na China, reconhecem-se no Congo do rei Leopoldo III, nas eternas guerras civis africanas, nos bombistas suicidas, etc, etc.

Valha-me a justiça do caso concreto e o "My Father's Angel".

se estás à espera que escreva uma coisa do tamanho da anterior, estou muito cansado.

Acresce que concordo com a grande maioria do que disseste.
Mas bolas, isso é que foi escrever.

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