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quinta-feira, agosto 04, 2005 

Que reste-t-il de notre gauche?

Ontem, um militante do PCP destacado para a Pontinha, por entre conversas de Avante-Jazz, Leninismo deturpado e passas de tabaco cubano enrolado, dizia-me o seguinte:

"Não interessa chegares lá (Pontinha) com conversas de viragem à direita e grande capital. Eles só vão pensar "Outro idiota que diz coisas difíceis". O importante é descer ao nível deles, nem que implique dizeres umas asneiradas.
Repara...a malta do PSD queria ir lá colar uns cartazes e foi corrida. O Bloco, quando lá foi, assaltaram-lhes os carros.
Nós, como os ajudamos nas Associações de Moradores, temos deles tudo o que queremos.


Descer? Há nivel mais baixo?

E agora uma citação de autor improvável:
"O Dr. Paulo Portas não percebe que não se desce ao povo. Sobe-se ao povo"
- José Pacheco Pereira

Antes que te estendas mais, eu escrevo uma data de coisas com a epígrafe "Que reste-t-il de notre......"

Não é suposto levar à letra a extinção da esquerda, como a entendeste e cujo toque, talvez um bocado excessivo, acusaste.

A reter do que disseste e na linha de não "tomar a parte pelo todo":
Resta, parece-me, da esquerda, até bastante mais que tu e o PCP.

Sobre a dificuldade da verbalização da ideia, não quero acreditar que defendas instrumentalizar vontades populares e captar apoios pela constituição de associações de moradores, para obter "tudo o que quisermos".

Sobre o resto, comento daqui a pouco porque agora não posso, mas queria só deixar aqui a ideia.

Relativamente à consciência de classe, que dizes não se compadecer de afirmações de subidas e descidas, nem estratos sociais, para grande pena minha, discordamos.

No plano real é obvio que ainda subsistem estratos sociais, quer lhes chames povo e burguesia (que julgo um bocado anacrónico) quer trates pelo nome de classes baixas, médias, médias-altas e altas.
Não é preciso um estudo sociológico, basta olhar à volta para uma realidade de classes móveis (agora, muito mais que no antigo regime, economicamente caracterizadas), pelo rendimento singular e consequentemente, nível de vida.

Não é desejável e sim, é criticável, mas, sem querer ser dogmático, é o que existe (agora e desde há algum tempo.)

Sobre outro ponto, a minha opinião é a de que, sim, sobe-se ao povo.

Sobe-se àqueles que votam pela necessidade extrema. Sobe-se aos que votam e lutam por situações concretas, pelos seus interesses e dos que lhes são mais próximos, pelos que apoiam quem os defende e neles votam. Sobe-se aos que, ao contrário de alguns, não se lhes dá igual se é a parte esquerda ou direita do bloco central que manda.

Mas não se utiliza (no plano do dever ser) acções de carácter social (como constituição de associações de moradores) para obter salvos-condutos, granjear simpatias e legitimar apoios. Um discurso como o que transcrevi (não foi na íntegra, porque o que realmente ele disse foi "caralhadas" em vez de "asneiradas") é demonstrativo de como há alguns que manipulam qum mais deles necessita.

A comunicação no acto de se fazer política (passar mensagem) pode pressupor uma linguagem mais simples, para algumas margens da população, pode implicar abordar questões sectoriais, uma vez que são as que mais importam e estão mais perto de quem vive essas questões (Na pontinha, acredito que a questão da segurança, ordenação urbanística, associações de condóminos seja bem mais importante que questões macro-económicas.)

Mas para subir ao povo, como eu acho que se deve (pelo menos a grande maioria da classe política deve), é preciso descer de um pretenso patamar de elitismo e superioridade moral.
Até porque é exactamente esse elitismo e pretensa superioridade moral que se estilhaça no chão quando se ouve um imbecil (como eu ouvi ontem) a propagandear a sua estratégia política de:

- constituir associações de moradores
+
- dizer umas "caralhadas"
+
- instigar quem é mais manipulável (mais congratular-se do mau tratamento dado a membros de outros partidos. Bolas, da última vez que reparei, esta sociedade era pluralista a TODOS os níveis)

=

Obter legitimação incondicional daquela margem da população (Azinhaga dos besouros, 6 de maio, etc...) para algumas medidas supostamente menos populares, mas que passam a não ser postas em causa, muito menos discutidas, por quem já tem muito a agradecer.

Não tomo a visão daquele idiota pela visão do PCP, nem pela da esquerda em geral (senão tinha de repensar - e bem - as minhas opiniões políticas, como espero, já tenhas reparado.)

Mas agora pergunto eu: Em que parte daquele discuros é que me pareceu que se dava um rebuçado que inclui uma cobrança abstracta? Em que parte disto tudo é que me pareceu que se menosprezava o que devia ser o essencial e o mais importante?
Diz-me só, em que parte disto tudo é que há alguma comunicação entre candidatos a governantes e governados?
Não há. Isso irrita-me profundamente.
Como me irrita profundamente a elite sectarista da esquerda e da direita, que para subir ao povo, julga que (incomodamente) tem de descer, seja do "Kapital", seja da "Riqueza das Nações". Irritam-me os supostos iluminados e paternalistas e irritam-me os comités.
E irrita-me a maníqueísta bipolarização que alguns palermas (como o das parvoíces que transcrevi) continuam a manter, como seja a da divisão de comunistas entre intelectuais e força operária.

É a incoerência suprema, quando os ouço falar na superação de classes sociais, quando noutros níveis (pelo que falam e dizem) são os mais acérrimos defensores da Classização e da estratificação. E é um caso sério de estupidez e distracção quando, à medida que falam, não percebem a sua incoerência.

gosto do que tu dizes.

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